Carta Capital
No Maranhão, oposição se articula contra clã Sarney
Flávio Dino tenta atrair para sua candidatura os partidos de Dilma, Aécio e Eduardo Campos. Não sem enfrentar obstáculos para tentar superar um poder enraizado há mais de meio século
Foto: Marcello Casal Jr./ABr
Flávio Dino
Pode soar ambicioso o plano do pré-candidato do PCdoB ao governo do Maranhão, Flávio Dino, para as eleições deste ano. O ex-deputado federal deseja atrair os partidos de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), principais adversários na corrida presidencial, em torno de sua candidatura. Mas ele garante que a tentativa de articular uma ampla frente de oposição se faz necessária diante do desafio de derrotar mais um sucessor do clã Sarney no Estado.
“O leque de alianças que estamos buscando tem de ser suficiente para o tamanho da tarefa de superar um regime político coronelista que vigora há 50 anos. Ele é o segundo político mais antigo da história brasileira. Dom Pedro II e ele”, afirmou Dino em referência ao senador José Sarney (PMDB) a CartaCapital.
Dino já entregou seu pedido de exoneração do cargo de presidente da Embratur ao ministro do Turismo, Gastão Vieira, e espera deixar a entidade nesta semana para se dedicar à construção de sua candidatura. O ex-jurista afirma ter esperanças de que o PT, aliado histórico do PCdoB, abandone o apoio ao PMDB no Maranhão em seu favor. “Sou um otimista incorrigível e sou um cristão. Acredito que as pessoas mudem para pagar os seus pecados.” E que pecados são esses? “O pecado de ter apoiado Roseana Sarney em 2010 e de ter ajudado a eleger esse governo desastroso. Desastroso para o Maranhão, para os direitos humanos e para o desenvolvimento do País.”
A esperança de que o PT deixe a aliança com o grupo de Sarney não se escora somente no otimismo bíblico de Dino. Hoje, ele tem em seu benefício a liderança nas pesquisas eleitorais. Segundo levantamento do DataM, encomendado pela TV Cidade, Dino tem mais de 55% das intenções, bem à frente dos 13% de Luís Fernando Silva, candidato apadrinhado pela atual governadora, Roseana Sarney (PMDB).
Outro fator ainda mais importante é que, desde janeiro, há sinais de desgaste no apoio do PT ao clã, muito por causa da onda de violência no Estado e das cenas de brutalidade no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, repercutidas internacionalmente. A crise acabou fortalecendo os argumentos de quem é favorável a uma ruptura com a família Sarney dentro do partido. “A crise aprofundou o fosso que separa o PT real deste governo. O PT é a sua militância no Estado e no Brasil. E há um desconforto com essa aliança no Maranhão”, disse Marcio Jardim, integrante da executiva do PT estadual.
No caminho alternativo ao atual apoio, aventa-se, além da coligação com Dino, o lançamento de uma candidatura própria na disputa. Essas possibilidades ou a manutenção da aliança com o PMDB, entretanto, devem ser avaliadas e definidas pela executiva nacional do PT. Em 2010, por exemplo, apesar de um entendimento contrário no diretório estadual, a executiva nacional do partido fez uma intervenção em favor da aliança com Roseana, que derrotou Dino no primeiro turno.
Para dar mais margem à indefinição, o PT enfrenta outro imbróglio no Maranhão. Atualmente, o diretório estadual do PT está sem comando oficial. Em novembro do ano passado, durante o Processo de Eleições Diretas (PED), houve um segundo turno realizado à revelia da executiva nacional. O candidato opositor da aliança com a família Sarney Henrique Sousa ficou bem à frente de Raimundo Monteiro, que havia boicotado a segunda rodada da votação.
A realização do segundo turno no Estado havia sido suspensa devido a um impasse quanto ao resultado da primeira eleição. A expectativa era a de que a questão fosse resolvida na última reunião da executiva nacional, em 27 de janeiro. A decisão, entretanto, foi adiada para 16 de fevereiro, quando deve ocorrer o próximo encontro.
“Namoro”. Com o quadro ainda pendente de definições, o pré-candidato do PCdoB segue flertando com as três maiores forças eleitorais deste ano. Ele afirma manter um “bom namoro” com PT, PSB e PSDB, mas que, até o momento, segundo ele, não houve uma evolução significativa nos diálogos. “Compromissos a gente faz no casamento. Estamos namorando, então não tem compromisso. Mas eu pego na mão de todo mundo em público”, disse, destacando que todas as conversas mantidas com os adversários da presidente Dilma são conduzidas de maneira aberta.
De todas os diálogos, o que parecia mais avançado era entre Dino e o PSB de Campos. Porém, na semana passada, a pré-candidata do PPS ao governo do Maranhão, Eliziane Gama, terceira colocada nas pesquisas de intenções de voto, reuniu-se com o governador de Pernambuco e Marina Silva em Brasília. A Rede Sustentabilidade, de Marina, já defendeu publicamente sua preferência em apoiar a candidatura de Eliziane, o que acrescenta mais um desafio à tentativa de formar uma ampla frente contra Sarney.
“De fato, a Eliziane tem uma relação com a Marina. E é um dos aspectos que a gente vai examinar. Também temos que ver se a Eliziane vai manter a candidatura até o fim”, disse Dino, acrescentando que não descarta tentar atrair a deputada federal, em terceiro lugar nas pesquisas eleitorais, para o seu palanque.
Com o PSDB, a relação, naturalmente, é a mais embrionária, até porque uma parcela considerável do partido no Estado ainda guarda mágoas pelo apoio de Dino ao atual prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Jr (PTC) na eleição de 2012. “Eu fui do PT a vida toda, eu tenho muita relação com o PT nacionalmente, localmente, eu componho o governo. O Eduardo Campos é meu amigo. Então, no conjunto de forças, o diálogo mais recente, o namoro mais novo, é exatamente esse com o PSDB.”
E ele garante que a atração do PSDB não o prejudicaria com o PT. Para Dino, a polarização nacional entre os dois partidos não precisa necessariamente ser reproduzida em todos os Estados, tendo em vista que o Brasil possui “27 realidades políticas muito diferentes”. Como exemplo, ele cita o Acre em 1998, quando para derrotar o grupo representado pelo ex-deputado federal Hildebrando Pascoal, acusado de chefiar um grupo de extermínio, PT e PSDB se uniram em torno de uma ampla aliança.
“Meu papel nesse instante é buscar as alianças necessárias para enfrentar esse poder avassalador. Não é qualquer adversário. É simplesmente alguém que tem 60 anos de poder. É um sistema solidamente enraizado”, resumiu Dino.
Fonte: Carta Capital
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