4 de dezembro de 2010

Do Portal Vermelho: 'WikiLeaks: existe liberdade de imprensa na internet?'



Reproduzo editorial do Portal de Notícias 'Vermelho' que trata das recentes revelações feitas pelo sítio Wikileaks sobre os sujos serviços de espionagem dos Estados Unidos da América contra centenas de países.

Boa Leitura!

O caso, para usar uma linguagem forense, do governo dos Estados Unidos contra o portal WikiLeaks é ilustrativo sobre a maneira como as autoridades do país mais poderoso do planeta entendem liberdade de imprensa e democracia e mostra que está longe o tempo em que o aristocrata francês Alexis de Tocqueville pôde escrever, sobre a então grande democracia do norte: “a liberdade de imprensa é uma consequência necessária da soberania do povo como ela é compreendida na América” (em A democracia na América, de 1835).

A realidade mostra que não é mais, e o que se impõe são os interesses do governo e das grandes empresas multinacionais, entre elas – evidentemente – os grandes monopólios da mídia.

O portal WikiLeaks se tornou famoso por divulgar lotes de documentos secretos do governo dos EUA, primeiro sobre a agressão no Oriente Médio e, agora, desvendando a arrogância e prepotência da diplomacia dirigida por Hillary Clinton. A reação do governo de Washington foi pressionar as empresas que disponibilizam servidores (os grandes computadores que alojam os portais da internet), uma reação de força típica de governos cujas ações negativas acabam escancaradas, revelando as reais ações, avaliações e intenções que movem sua ação diplomática.

O linguista Noam Chomsky, um veterano militante da causa da paz, diz que a diplomacia dos EUA não é honesta nem confiável, avaliação que foi plenamente demonstrada pela montanha de telegramas divulgados pelo WikiLeaks.

Esta escassa confiabilidade anda junto com a hipocrisia. No começo deste ano, quando o portal de buscas Google entrou em conflito com o governo da China ao infringir as leis desta nação, a secretária de Estado Hillary Clinton parecia indignada quando pregava a plena liberdade da internet em todo o mundo.

As medidas tomadas nesta semana, quando o portal Amazon aceitou desligar a WikiLeaks de seus computadores por pressões de Washington, não deixam dúvida quanto a isso. Há outra frase histórica que ajuda a entender o caso e as limitações à liberdade de imprensa. O pensador Benjamin Franklin, que viveu no século 18 e foi um dos pais da independência dos EUA, disse certa vez, com ironia: “a liberdade de imprensa é a liberdade de quem tem uma” (em inglês, a palavra – press – designa imprensa e também a máquina usada para imprimir, a prensa).

É nos EUA que estão localizados os principais servidores da internet (computadores hospedeiros dos portais de todo o gênero que existem na rede). Usando a “liberdade de imprensa” no sentido restritivo indicado por Benjamin Franklin, o governo de Washington confirma ser uma ameaça para a livre manifestação do pensamento e para a liberdade de publicação em todo o mundo. Subordinar publicações na internet a seus interesses geopolíticos e para ocultar seus segredos de Estado passa a ser uma nova modalidade de ameaça à democracia sediada nos EUA e que se junta às outras que, de lá, infelicitam o mundo – como as agressões militares, pressões econômicas, restrições políticas etc.

Comentando o atentado à liberdade de imprensa cometido nesta semana por Washington, Chomsky observou que sua “mais dramática revelação é o amargo ódio à democracia que tanto o governo dos EUA - Hillary Clinton e outros – como o serviço diplomático demonstram”.

A liberdade de imprensa é uma conquista da democracia moderna. É um princípio que precisa ser defendido pelos trabalhadores e pelos democratas de todas as partes. Nas condições atuais, uma enorme restrição a ela é o domínio da mídia por grandes monopólios, que enredam jornais, revistas, rádio e televisão numa espúria teia de interesses que enlaça governos conservadores e os interesses do grande capital e transformam suas publicações em instrumentos de manipulação política.

Onde estão os “campeões” da liberdade de imprensa quando o governo de Washingon investe contra a difusão de documentos incômodos? Esses mesmos “campeões”, quando se trata de governos como os de Hugo Chávez, Cristina Kirchner, Evo Morales, Lula ou a candidata Dilma Rousseff, são implacáveis defensores da divulgação de qualquer segredo, mesmo aqueles inventados pela própria conspiração midiática. E, quando estes governos se defendem das mentiras e calúnias veiculadas pela mídia patronal, são acusados de ameaçar a liberdade de imprensa. Onde está a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) e sua afetada indignação quando a restrição à publicação de documentos parte de Washington?

A novidade até agora era a internet, encarada como um campo de disputa livre e democrática. A censura dos EUA contra a WikiLeaks mostra como isso também é relativo: o espaço da liberdade na rede mundial é aquele que caminha junto aos seus interesses, ou pelo menos não os confronta diretamente de forma global. O espaço da liberdade, na rede, é aquele da militância contra nações e governos que não rezam pela cartilha de Washington. Mas aí daquele que confronta os interesses da principal potência imperialista – a “liberdade” é trocada pelo uso da força, da coerção, da calúnia. Da destruição das condições materiais para a difusão de ideias, publicações e documentos incômodos.

Fonte: www.vermelho.org.br

Um comentário:

RITA AMARAL disse...

MARDEN PARAAQUELES QUE VOCIFERAM CONTRA SUPOSTA FALTA DE LIBERDADE DE IMPRENSA AQUI NO BRASIL TA NO MOMENTO DE DIZER O QUE PENSAM DA POSTURA DO EUA ACERCA DISSO.
É UMA MENTIRA O QUE ESSES SENHORES AQUI DO BRASIL FALAM. E ELES SABEM DISSO.
OS EUA SÃO A PRINCIPAL REFERENCIA DEMOCRATICA PARA ESSES POVO. NO ENTANTO SÃO ELES OS EUA OS PRIMEIROS A INFRINGU=IREM AS REGRAS DEMOCRATICAS, MESMO NUMA ÓTICA LIBERAL.
ELES PRECISAM DEIXAR DE SER HIPÓCRITAS.
ABRAÇO MARDEN