26 de junho de 2009

Do Blog do Almir Bruno: Lima Coelho entrevista Flávio Dino

No quadro intitulado "VANGUARDA MARANHENSE" o Blog de Almir Bruno conseguiu reunir duas expressões de grande credibilidade: o jornalista LIMA COELHO entrevista com exclusividade o Dep. Federal FLÁVIO DINO, num encontro marcado por muita emoção.

Lima Coelho:Quem é Flávio Dino?
Flávio Dino:Tenho 41 anos, nasci em São Luís, sou casado, pai de dois filhos. Adoro ser maranhense e brasileiro, sou socialista e cristão. Gosto de trabalhar, de ler jornais e livros, de aprender sempre, de ver futebol na TV. Desde os 15 anos sou militante político: movimento estudantil, PT, advocacia para sindicatos, campanha de Lula, presidente da Associação Nacional dos Juízes Federais, PCdoB. A luta por Justiça é a minha causa, é o que me move. Estou em um momento de muito entusiasmo com a vida. Agradeço a Deus todos os dias. Amo viver e colocar a minha vida a serviço de outras vidas, acredito ser essa a minha missão.

Lima Coelho:A partir do momento que você abraçou definitivamente a política partidária, foi surpresa a forma como o público o recebeu com a eleição a Deputado Federal?

Flávio Dino:Quando optei por deixar a magistratura depois de 12 anos havia um risco embutido, algo imponderável, imprevisível. A primeira inquietação era como a sociedade iria receber alguém deixar uma carreira cobiçada, bem vista, para disputar uma eleição; se isso não seria recebido como um gesto imprudente e insensato. A segunda dúvida era como conseguir se inserir no meio político, pelo fato de não ter exercido nenhum mandato. Embora tivesse uma experiência política desde muito jovem, jamais tinha sido candidato.Foram muitas variáveis e seis meses de muita angústia pessoal, sofrimento, pois não era uma decisão simples, havia desafios pessoais e familiares, mas tenho muita serenidade em afirmar que fiz o correto.

Lima Coelho:A sua atuação como político foi determinante para que fosse candidato á prefeito de São Luís?

Flávio Dino:A candidatura a prefeito de São Luís não foi planejada, eu pessoalmente tinha muita resistência à idéia. Ela foi se desenhando a partir de algumas críticas em relação ao modo como a transição almejada por todos estava se verificando. Não enxergávamos nos grupos dominantes da política local (o grupo Sarney de um lado e a Frente de Libertação do outro) condições de conduzir um real projeto de renovação, e a minha candidatura partiu da leitura deste cenário; não foi algo posto em 2006, ou seja, não fui candidato a Deputado Federal para almejar a prefeitura. Imaginava exercer os quatro anos de mandato.Essa decisão também foi acertada, porque fizemos uma campanha muito bonita, talvez o maior desafio pessoal que enfrentei na vida, pois exigia uma costura política com outras forças e romper o bloqueio que estava erguido pela lógica do “mais do mesmo”. Então havia muita desconfiança da viabilidade. Quando iniciamos, éramos poucos andando nas ruas, enfrentávamos inclusive a barreira do desconhecimento, já que era Deputado Federal no primeiro mandato e parte da população não conhecia o meu desempenho parlamentar. Mas a campanha cresceu e confirmou que a leitura que fizemos do cenário estava correta, o descontentamento da população era grande com os rumos da política do nosso Estado, e minha candidatura acabou crescendo. Isso foi fundamental para explicar porque uma candidatura que começou com 4% conseguiu, na minha perspectiva, vencer.

Lima Coelho:Você continua tendo essa visão, uma vez que a frente de libertação se reuniu na Assembléia Legislativa e você não esteve presente?

Flávio Dino:É importante lembrar que não fizemos parte da Frente de Libertação originalmente construída.Em 2006 já tínhamos uma leitura crítica em relação a certas pessoas que se auto-intitulavam ANTI-SARNEY, tanto que apoiamos no primeiro turno Edson Vidigal para o governo e Bira do Pindaré para senador na coligação PT, PSB e PCdoB. A Frente de Libertação tinha JACKSON LAGO e JOÃO CASTELO, nós só apoiamos a candidatura de JACKSON ao governo do Estado no segundo turno, pois tínhamos duas alternativas: ROSEANA ou JACKSON. Nos incorporamos à Frente de Libertação, participei da campanha de JACKSON e foi a decisão acertada naquele momento. Infelizmente o governo acabou nos frustrando do ponto de vista programático. Não tenho queixas e ressentimentos pessoais contra JACKSON, mas realmente o governo não caminhou por onde esperávamos. Na campanha de prefeito repetimos que o Jackson foi eleito para fazer a transição para o futuro, mas infelizmente as opções eleitorais que adotou, inclusive em São Luís, e o modo como administrou o Estado, representaram a transição para o passado.Somos contra a reedição da Frente de Libertação, nos mesmos moldes, do mesmo jeito. O que é fundamental para nós nesse instante é discutir programa e direção política. Não temos veto pessoal de nenhuma natureza, agora não concordamos com a recomposição nas mesmas bases daquilo que infelizmente deu errado.

Lima Coelho:Você perdeu a Prefeitura para um político que se diz experiente, e como administrador público foi governador do Estado, que avaliação você faz dos quatro meses de gestão de João Castelo?

Flávio Dino:Não tem administração e não tem trabalho, é difícil avaliar o que não existe.Até agora a Prefeitura, nada fez, não tem nenhuma iniciativa expressiva. Dizemos isso com tranqüilidade, tomando com base o nosso programa político. Temos a visão clara de que qualquer administração municipal comprometida com o desenvolvimento e com a qualidade de vida do povo tem como tarefas fundamentais: democratização do poder, do saber e da renda. Até agora, João Castelo não lidera nenhum projeto voltado a essas tarefas: a participação popular, políticas públicas eficientes, inclusão digital, melhoria da qualidade das escolas, do Índice de Educação Básica (IDEB), dos serviços de saúde. Esse é o cerne, o núcleo da nossa crítica, que se baseia no programa que consideramos correto. O que é mais grave, é que também do ponto de vista do programa dele, nada foi feito. As promessas de campanha estão sem nenhuma iniciativa concreta, palpável, no sentido de realizá-las, por isso que afirmo que é uma gestão que não começou, já que não executa nem mesmo o programa que ele se comprometeu a fazer.Cito como exemplo o fornecimento de uniformes escolares para as crianças das escolas municipais. Ele acabou por vetar um projeto aprovado pela Câmara de São Luís de autoria do Vereador J. Pinto, alegando inconstitucionalidade que não havia. Ele deveria sancionar e implementar, porque era compromisso central de sua campanha, e acabou frustrando o povo, além de outras promessas ainda não cumpridas, como o Bom Preço e o Hospital do Angelim.Lima Coelho:Poderia ser um projeto para a consagração popular e afirmar a sua gestão?Flávio Dino:Como cidadão de São Luís que ama a nossa cidade e tem compromisso com ela, eu espero sinceramente que João Castelo comece a governar, fazendo o básico pelo menos. Ele foi eleito para governar e nós fomos eleitos para fazer oposição. Essa é a grande colaboração que a oposição dá em uma democracia: cobrar e fiscalizar. Temos feito isso, embora ele, alguns de seus auxiliares e aliados políticos, sempre reajam mal, vendo isso como uma espécie de usurpação da vontade popular, e não se trata disso, nós temos nossa legitimidade pela votação que obtivemos.
Lima Coelho:Recentemente o governador Jackson foi cassado, a abordagem que gostaria de fazer nesse instante, é sobre a sua visão sobre a influência ainda do grupo Sarney na política do estado, pesa mais o fato da família estar comandando a política, o estado do maranhão, por mais de 40 anos?

Flávio Dino:O governador Jackson foi cassado por muitos motivos.Eu como então aliado fiz o possível para evitar, inclusive sendo advogado de Jackson durante algum tempo, e procurava, na dupla condição de advogado e aliado político, alertar o governo e seus auxiliares mais próximos de que a principal questão que havia a ser enfrentada era o desgaste da administração estadual, na medida em que o governo equivocadamente se recusava a atender demandas de vários setores fundamentais, como os professores, os policiais. Isso gerava desgaste na base social, era uma espécie de lenha que aquecia o forno da cassação. Por diversas ocasiões coloquei isso, mas infelizmente o núcleo de comando do governo tinha outra visão, e esse desacerto foi determinante. Isso tudo infelizmente levou à perda da oportunidade histórica aberta com a derrota do Grupo Sarney em 2006, após anos de luta.

Lima Coelho:No campo municipal você está aquecendo a fogueira tentando ainda a cassação do prefeito João Castelo?

Flávio Dino:Quem aquece a fogueira é ele próprio.Recorrendo ao Judiciário, temos feito o que a lei nos permite, o que, aliás, vários outros atores da política maranhense já fizeram em algum momento, como o próprio Jackson em 2002 quando Zé Reinaldo venceu as eleições. Recentemente partidos que apoiaram Jackson entraram com processo contra Roseana. Então é algo inerente à democracia que se um lado se considera prejudicado pelo descumprimento da lei eleitoral busque o Poder Judiciário.Nos baseamos em inquéritos e procedimentos feitos pela Polícia Federal, inclusive com prisões em flagrante de pessoas que estavam comprando votos para Castelo, prédios públicos servindo de comitês de campanha, doações ilegais e uma série de atos que nos levaram a ingressar com a ação na Justiça.

Lima Coelho:Você aparece no Blog do Almir Bruno como um dos favoritos ao governo do estado do maranhão, e tem se notado certo clamor pelo seu nome em várias camadas sociais. Como você vê isso?

Flávio Dino:Para ser Governador do Estado, é preciso que haja uma oportunidade definida coletivamente, não é um gesto voluntarista. Eu acompanho a enquete no blog do Almir Bruno, além de outras, e evidentemente me alegra, acho interessante, é uma espécie de reconhecimento do trabalho como parlamentar, juiz, advogado, candidato a prefeito, professor, isso me entusiasma, anima, mas não me sobe à cabeça, tenho os pés no chão. Se fosse hoje, eu seria candidato à reeleição de Deputado Federal, mas não sei para onde irão as forças políticas. No PCdoB isso tem uma implicação nacional, já que o objetivo principal da legenda em 2010 é a eleição de deputados, então esse é o nosso compromisso e teria de ser decidido nacionalmente . Depende de como vai se proceder ao debate interno do PT que tem excelentes nomes e grandes lideranças. Depende também do direcionamento do PSB, que é uma força política aliada nacionalmente e compõe o governo Lula, e dos demais partidos que apoiaram a minha candidatura a prefeito no 2º turno de São Luís.Se houver uma convergência desses partidos, do movimento social, sindicatos, igrejas, e demais entidades populares no sentido da minha candidatura, eu não fugirei da tarefa, porque política para mim não é profissão. Eu inclusive exerço duas profissões, professor e advogado para não desaprender (risos), porque a pior coisa para mim seria virar “político profissional”. Eu gosto muito de ser Deputado Federal. Talvez por influência familiar do meu pai que foi Deputado Estadual, e no golpe militar de 64 foi cassado injustamente, foi preso arbitrariamente, perdeu seus direitos políticos e deixou de ser Deputado Federal em 1965. Portanto, eu gosto do que faço por uma série de fatores pessoais e políticos, agora não me recusarei a ser candidato ao Governo se for esse o sentimento geral, e retomarei com prazer a onda vermelha, desta vez no Estado inteiro.

Lima Coelho:Você tem sido citado como uma das maiores lideranças políticas que surgiram nos últimos tempos no maranhão, já que falou no nome de Bira do Pindaré que teve uma votação expressiva aqui na Capital, você acha que uma chapa com Flávio e Bira daria para fazer frente com esse grupo que está tanto tempo no poder?

Flávio Dino:Apoiei a candidatura de Bira em 2006 a senador porque achávamos que o PCdoB teria de ser coerente com a visão que possuímos de renovação. Conheço ele há mais de 20 anos, desde o movimento estudantil na UFMA, fui advogado do Sindicato dos Bancários quando ele era sindicalista, fiz o prefácio do livro que ele publicou, ele foi meu aluno no curso de Direito na UFMA, um excelente aluno por sinal . Temos vários pontos de afinidade, tenho um relacionamento muito bom com ele, de muita confiança. Se for esse o projeto, vai ser uma honra fazer campanha com ele, com os demais companheiros do PT e dos outros partidos aliados.

Lima Coelho:Que mensagem você deixa não só aos eleitores de Flávio Dino, mas aos eleitores do maranhão que estão ávidos por mudanças no cenário político?

Flávio Dino:Três palavras sintetizam uma mensagem adequada para o momento: a primeira é esperança; as coisas podem ser diferentes. A segunda é justiça, que é o sentimento que deve nos mover sempre, a partir inclusive da indignação com as muitas injustiças. A terceira é de otimismo; procuro exercitar a máxima filosófica de Gramsci: pessimismo na teoria e otimismo na prática. O “pessimismo” no sentido de você desconfiar sempre, ter um senso crítico aguçado, enxergar o mundo sempre com olhar inquiridor, interrogando, um olhar inquieto. Mas ao mesmo tempo otimismo na prática, pois é possível transformarmos o mundo, é possível termos uma sociedade justa, é possível termos uma sociedade de homens e mulheres livres e iguais que realizem seus sonhos. Mesmo que leve certo tempo, pois quantos vieram antes de nós e quantos irão vir depois? É preciso ter esse senso histórico. Eu procuro fazer a minha parte com o máximo de dedicação, de qualidade que eu consiga imprimir à ação política, e não pode ser diferente porque o povo merece, precisa disso. Acredito que o propósito de qualquer dirigente político de esquerda é fazer com que essa perspectiva consiga se materializar no Maranhão: ideais republicanos, participação popular, cumprimento da lei, que não haja perseguição, que o dinheiro público não seja roubado, que haja políticas sociais inclusivas, são coisas simples e ao mesmo tempo complexas porque ainda estão distantes. Mas acredito que em 2010 vamos dar grandes passos para nos aproximarmos da concretização desse sonho em nosso Estado. Agradeço de coração as muitas manifestações de carinho que recebo todos os dias.
Muito Obrigado.

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