O tempo de todos
O tempo que se conta sempre
É o que se viveu sem se enganar os sentidos
O tempo que não se viveu
É apenas um não tempo enganado por si só
Não como aquele que se deixou morrer
Ou ainda este que quase se deixa viver
Sem força estremece diante do devir das coisas
Desfraldadas do enigma e do serpenteio dialético da história
Este tempo não existiu especificamente
Ele compôs a totalidade enquanto tal
Apenas como uma relação de possibilidades
Embrenhada nas pás monossilábicas do moinho que se diz azul
Exclama, tempo, insinua-te nas andanças da vida
Enquanto possibilidade relacional e vivência helicoidal
O tempo, sim, é aquele que se viveu
Que se chorou e de alegria ou dor se modificou
E enquanto tal deve ser contado
Como em somas de múltiplas implicações
Vida que de tempo se fez
E se faz inapelavelmente
No vento fractalizado do poeta
Nunca se mata ou se cala o fio da faca intermitente
Prenhe navega o homem em inarredável existência
Como um não tempo que existe como o corte histórico do poema
Devir de calefações revolucionárias
A serem calculadas pelo próprio ser
No tempo que é de todos
Marden Ramalho
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