16 de setembro de 2013

Mãe de santo ocupa cadeira na Academia de Letras da Bahia

Stella de Oxossi
Eleita por unanimidade, a mãe de santo baiana Stella de Oxossi foi empossada nna última quinta-feira (12) na ALB (Academia de Letras da Bahia).

Ela passou a ocupar a cadeira 33, cujo patrono é o poeta abolicionista Castro Alves. “Levei um choque, pois é uma coisa que não é comum”, afirmou em entrevista ao Portal CTB, a primeira mãe de santo a entrar para uma Academia de Letras no país. “Depois vi que foi a comunidade que proporcionou isso e achei uma recompensa”, alegrou-se Mãe Stella.

A escritora revela a felicidade de receber o título. “Somente no século 21 alguém teve a coragem de prestar esse reconhecimento, não a mim, mas à minha religião tão discriminada e aos afro-decendentes. Essa homenagem representa uma glória pessoal, mas também marca a vitória de uma causa, a causa da mulher brasileira”, reforça.

mae estella

O presidente da ALB desde 2011, Aramis Ribeiro Costa, confirma a importância da eleição de Mãe Stella, que agora é uma imortal das letras da Bahia. Ele acentua que é a primeira vez que uma mãe de santo ingressa em uma Academia de Letras. “Isso é absolutamente pioneiro, não tenho conhecimento disso em nenhuma outra parte do Brasil ou do mundo”, comemora.
Sede da Academia de Letras da Bahia, em Salvador

Ela é também a primeira mulher negra a conquistar uma vaga na academia. Fato importante num país que a cada ano mostra sua face racista. Mais recentemente, na implantação do Programa Mais Médicos, foram muitas as manifestações preconceituosa veiculada pela mídia comercial e na internet. "Minha mãe Stella tem uma particularidade: não necessitou sair de sua literatura pessoal, da sua experiência de sacerdotisa para galgar esta posição. Ela não precisou de articulações literárias complexas e inadequadas para ganhar o título com que representa todos nós", diz o historiador e religioso do candomblé, Jaime Sodré.

Maria Stella Azevedo dos Santos foi escolhida mãe de santo do Ilê Axé Opô Afonjá em 1976. Em 1983, Mãe Stella liderou a elaboração de um manifesto contra a prática do sincretismo religioso, muito forte na Bahia. A caçula de quatro irmãos, Mãe Stella é para muitos a sucessora de Mãe Menininha do Gantois, a mãe de santo mais famosa que o Brasil já conheceu.

Nascida em 2 de maio de 1925, em Salvador, Mãe Stella exerceu a profissão de enfermeira sanitarista por 35 anos, formada pela Universidade Federal da Bahia. Em 2009, ela recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia.

Poeta Castro Alves assim recepcionaria Stela
A mãe de santo escritora continua atuante em questões sociais. Em seu terreiro, funciona a Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos, que atende 350 crianças do ensino fundamental. Além disso, 100 famílias vivem na área do Ilê Axé Opó Afonjá. Ela conta que escreve à mão e suas “filhas” digitam o texto. “Sou analfabeta em computador”, confessa a mãe de santo de 88 anos.

Mãe Stella tem seis livros publicados. E Daí Aconteceu o Encanto (1988), Lineamentos da Religião dos Orixás - Memória de ternura (2004), Òsósi - O Caçador de Alegrias (2006), Owé - Provérbios (2007), Epé Laiyé- terra viva (2009) e Meu Tempo é Agora (2010). Além da coletânea de artigos Opinião do jornal A Tarde em 2012.

A importância da escrita e da cultura oral foi destacada no discurso, sobretudo para a preservação da memória dos terreiros. "Não sou uma escritora, sou uma ialorixá que escreve. Sou uma ialorixá que escreve com o objetivo primeiro de não deixar perder a herança de nossos orixás", anunciou a primeira mulher negra a integrar a ALB.

"É mais do que justa essa homenagem à escritora Maria Stella. É uma pessoa que tem um grande conhecimento e que vai nos trazer a visão de outra realidade", diz a escritora Myriam Fraga.

Fonte: www.portalctb.org.br

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