Novidade, novo e novato, por Flávio Dino
Na última quinta-feira, comemoramos 123 anos da Proclamação da República em nosso país. Depois de um longo acúmulo de forças insurgentes, derivado de séculos de lutas tais como a campanha abolicionista, a Conjuração dos Alfaiates, a Revolução Pernambucana e a Balaiada, em 15 de novembro de 1889 houve o golpe final contra a Monarquia.
Contudo, ainda que a queda da Monarquia tenha representado um avanço institucional, a República nasceu sob o domínio de oligarquias regionais, pouco ou nada comprometidas com práticas autenticamente republicanas. Assim foi no nosso estado, como narra Barbosa de Godóis em sua História do Maranhão. Desde então se trava uma luta permanente pela edificação de uma máquina pública democrática – que ouça e atenda às demandas da maioria da população – e republicana – que trate a todos os integrantes da sociedade como iguais.
Aqui no Maranhão, a vitória de um projeto democrático e republicano ainda é algo novo. Com efeito, assistimos em nosso estado a exemplos escandalosos dos mais antigos vícios que restam no Brasil. Um deles é o patrimonialismo, com o direcionamento ilegal, para famílias e grupos privados, dos recursos e ações do Estado. Também grassa tristemente em nossa terra o coronelismo, com o controle absoluto da máquina pública por um grupo político, alojando protegidos em todas as estruturas estatais, que tudo fazem para se perpetuar no poder, inclusive lançando mão de chantagens, perseguições e violência.
Tudo isso é ainda mais lamentável porque há quase 50 anos um novato surgia prometendo novidades no lugar do velho coronelismo. Em tantas décadas de poder, teve todas as oportunidades para cumprir seus compromissos históricos e não o fez, sabe Deus por quais motivos. Nada revela mais essa frustração do que a realidade que indigna aos que realmente amam o Maranhão: povo sofrendo em um sistema de saúde que não funciona, juventude sem educação de qualidade, milhares de pessoas indo embora das suas cidades em busca de trabalho, o consumo de drogas crescendo e dizimando esperanças.
São as dores de mães e pais que estão traduzidas em números quando se anuncia que o nosso estado permanece tristemente nas últimas colocações dos indicadores sociais do Brasil, apesar de sermos uma das mais ricas e belas terras de nosso país. Para essa contradição (povo pobre em um estado rico), é necessário encontrar uma solução.
Por isso, com coragem e independência, tenho percorrido todo o Maranhão, convidando as pessoas de todas as idades, gêneros, raças e credos para que construamos um novo projeto de desenvolvimento. Contra esse projeto, diariamente falam as vozes do passado, tentando desqualificar o que lhes assusta e ameaça suas heranças. Não há novidade nisso.
Para a afirmação desse projeto, não temos preconceitos de nenhum tipo: cabem experientes e novatos. Os primeiros contribuem com o saber da experiência vivida. Os novatos oferecem, de sua parte, o salutar desejo de construir novidades. Afinal, por que discriminar os novatos, se a falta de experiência é resolvida pelo decurso do tempo? Aliás, é melhor não ter certas experiências, como o de frequentar jantares em palácios com governantes ilegítimos e notórios agentes do imperialismo, em plena ditadura militar.
Há 200 anos, o filósofo alemão Friedrich Hegel refletia sobre o novo como inerente à vida. Dos confrontos entre uma tese e sua antítese – ou seja, entre duas realidades dissonantes – sempre virá uma síntese: o novo que surge como solução às contradições anteriores. ‘Nada é, tudo vem a ser’ é uma das mais conhecidas frases com que Hegel buscou exprimir a ideia de que a vinda do novo faz parte da história, mesmo que uns não queiram. Assim, vamos adiante, reunindo novatos e não-novatos em uma grande aliança em defesa do Maranhão.
Um comentário:
No Brasil, como diz Ignácio Rangel,tudo é do averso. A independência foi feita pela própria matriz,a república foi publicada por monarquistas e a industrialização por latifuniários. A evidência histórica de Hegel é clara: a verdade sempre aparece. Agora como nos lembra o grande mouro alemão que as relações de produção é a infra estrutura da sociedade, e isso dá gênese a superestrutura. Ou seja, a não se quebra superestrutura com "teoria" do espontaneísmo.A teoria do culto da espontaneidade é decididamente hostil ao caráter revolucionário da classe trabalhadora. Lembram que o professor Schumpeter diz: os períodos de crise que se forjam as inovações e essas são aplicadas no período de ascendente. A subjetividade, a intuiçao, os sentimentos, a experiência, o simbolismo, o singular e o vilipêndio da contradição, o satanismo e a fulanização nos levará a lugar nenhum... Se não houver um plano de desenvolvimento das cadeias produtivas e em conluio com o governo federal dentro de uma visão de conjunto e a totalidade não passará meramente de categorias tautológicas... Roberto César Cunha
Postar um comentário