Tive acesso somente hoje ao mais robusto e instigante dos depoimentos prestados à polícia que investiga o assassinato do jornalista e blogueiro Décio Sá, ocorrido no dia 23 de abril. Trata-se do depoimento (20 de junho) de Patrícia Gracielli Aranha Martins, viúva de Fábio Brasil, que foi assassinado em Teresina supostamente a mando dos que mandaram matar Décio Sá.
Antes, gostaria de conversar com vocês ao lado. Não sei se os professores do Curso de Jornalismo do Maranhão estão aproveitando o que se tem noticiado até aqui sobre o caso. Deveriam, afinal trata-se de uma verdadeira aula de como não se deve fazer jornalismo.
Com a morte de Décio Sá, tudo o que há de pior na imprensa e nos blogues do Maranhão aflorou. Os momentos de crise são propícios a que isso aconteça.
Voltemos ao assunto principal.
O depoimento de Gracielli é instigante porque deixa ver, na sua inteireza e crueza, as relações entre os implicados no caso Décio, as relações destes com o submundo das prefeituras, as relações dos implicados com policiais civis e federal e até dos implicados com gerentes de banco. Trata-se de uma imensa teia.
Lembrem-se que no dia 13 de junho escrevi o texto “Envolvidos na morte de Décio Sá cometiam crimes abertamente: devem ter comparsas e protetores de alguma relevância” (Releiam aqui).
Gracielli é de São Luís. Fábio Brasil era de Teresina. Ambos moraram juntos nas duas cidades. Logo no início de seu depoimento, Gracielli declara que em 2011 foi morar em Teresina “porque Fábio Brasil estava devendo muito dinheiro a agiotas, e por este motivo estava se sentido ameaçada”.
Pelo depoimento da viúva fica-se sabendo que Fábio Brasil devia a Deus e o mundo. Quantias grandes. De Gláucio Alencar, um dos principais suspeitos de sua morte, até o juiz Sidarta Gautama, passando por agiotas de todo o tipo e marca. Fábio Brasil era uma bomba-relógio, espanta que tenha demorado a explodir.
Mas não só. Fábio Brasil e Gracielli participavam dos negócios escusos com as prefeituras do interior do Maranhão. Negócios que envolviam a merenda escolar e remédios. Ambos emprestavam empresas para a realização das negociatas.
E aqui começam as complicações e ficamos sabendo como se davam as relações entre os comparsas. É um mundo de muito dinheiro desviado. Todos desconfiam de todos. Todos tentam derrubar todos. Nasce, então, a história de que Fábio Brasil tramava o assassinato de Gláucio Alencar.
Eis a íntgra do que diz Gracielli:
“QUE, a declarante sabe que Hélcio estava ‘passando para trás’ o GLÁUCIO e por conta disso, ele, HÉLCIO BONFIM, queria a qualquer custo tirar FÁBIO BRASIL de perto de GLÁUCIO, inclusive teria ‘inventado uma conversa a GLÁUCIO’ de que FÁBIO BRASIL teria contratado pistoleiros para matá-lo e que segundo HÉLCIO este teria oferecido a inversão do negócio, ou seja, da trama da morte, e assim GLÁUCIO mandaria matar FÁBIO BRASIL”.
Depois disso Gláucio chama Fábio Brasil até sua casa. Fábio foi com a mulher, Gracielli. Ali estavam Gláucio e o pai Miranda. Só que dois personagens, que aparecem praticamente em todos os depoimentos, os policiais civis Alcides e Durans, estavam lá, escondidos.
Alcides chama Fábio Brasil para uma conversa reservada. Ali pede-lhe os documentos. Gracielli diz no depoimento que supõe que a ideia era prendê-lo por falsidade ideológica e ameaça. Acontece que Fábio Brasil apresentou documentos verdadeiros (prova de que ele usava outros documentos pessoais falsos).
O certo é que Fábio Brasil diz a Miranda que não tinha “onde cair morto”, como iria arranjar 200 mil reais para contratar a morte de Gláucio?
Bom, o que aconteceu depois desse episódio foi o seguinte, segundo a viúva: Gláucio tirou da conta da empresa de Gracielli várias prefeituras, deixando apenas três.
O desfecho de tudo isso sabemos todos: Fábio Brasil fugiu para Teresina, deixando para trás incontáveis dívidas com incontáveis pessoas. Acabou assassinado em Tresina por Jhonathan de Sousa, que depois mataria Décio Sá.
Lembram da conversa que tivemos ao lado, lá em cima? Pois é, não foi à toa. Vejam.
Gracielli enumera as prefeituras de Dom Pedro, Rosário, Paço do Lumiar e a polícia lhe pergunta sobre a deputada estadual Gardênia Castelo, filha do prefeito de São Luís, João Castelo.
E o que fizeram os blogueiros que tiveram acesso ao depoimento da viúva de Fábio Brasil? Falaram das ligações dos prefeitos de Dom Pedro e Rosário com Gláucio. Reparem que deixaram de lado a prefeita Bia Arôso, de Paço do Lumiar. Por quê? Simples, a prefeita de Paço do Lumiar mantém inúmeros blogueiros e jornalistas no cabresto por conta de dinheiro mensal.
Reparem como eu, a partir de uma fonte que não costuma falhar, portanto, sem ter tido acesso ao depoimento de Gracielli, toquei no assunto em 21 de junho, com o texto: “Bia Venâncio tinha estreitas ligações com Gláucio. Por que blogueiros fingem não saber de nada?”. Os leitores podem rever aqui.
Bom, logo depois alguns blogueiros trataram de alardear ligações da deputada Gardênia Castelo com o agiota Gláucio. Aqui já não se tratava apenas de dinheiro mensal, porém de prestação de serviço a um grupo político, de quem dependem financeiramente, lógico.
Mas, o que disse a viúva a respeito de um possível empréstimo de Gláucio à deputada?
A polícia pergunta se Gracielli sabia de um empréstimo de 400 mil reais feito por Gláucio à deputada. Resposta da viúva: “QUE, não sabe se realmente ocorreu”.
Meu caros e minhas caras, vamos continuar analisando os depoimentos que chegarem ao editor do blog. Fiquem atentos. Comentem, a opinião de vocês, bons leitores, é valiosa.
PS: O gerente citado por Gracielli, com estreitas relações com Gláucio, é da agência do Banco do Brasil do Reviver. Qual o nome dele? A polícia procurou ouvi-lo? Esse personagem é importantíssimo para o desvendamento do esquema com as prefeituras.
Fonte: Blog do Kenard
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